Fugiu
o tempo de menino
Que
descalço percorria as ruas estreitas
E
ao longe mergulhava no rio limpo
Bebia
e brincava ouvindo as modas das lavadeiras
Que
risonhas coravam a roupa branca
Entre
murmúrios inaudíveis para criança
Era
o meu rio como o tratávamos
Onde
o peixe fugia com a chegada da maré
E
a água salgada se misturava nas minhas mãos
Do
outro lado da vila a escola que tantas recordações me traz
O
pião os botões aos molhos da minha tia
Os
berlindes e óleo fígado de bacalhau uaauauu que dia
Ainda
hoje ouço a cana-da-índia a bater no quadro escuro
As
correrias de volta das oliveiras
E
ao entardecer o jogo das escondidas numa praça cheia de gente
Ali
mesmo o cheiro no ar das espigas de domingo
Que
nos outros dias eram simplesmente sonhos
O
jogo das damas dos mais velhos
O
diário de Coimbra que passava de mão em mão
E
o acender das luzes que indicavam o recolher
Caía
em mim numa cama de penas onde me escondia
Nos
dias que meu tio não adormecia
Eu caía …
Nota:
Vila de Montemor-o-Velho
Rio Mondego
Escola Primária
Espigas doces