Sinto-me como se estivesse no regaço de minha mãe
Sentindo cada chinelada como um beijo que me dava
Que por vezes só ela chorava
Partiu mas deixou-me o seu olhar da vida
As dificuldades sofridas
E o querer vencer
Mesmo nas dificuldades que foram muitas
Me tapava com cobertor quentinho
Dava-me um beijo antes de partir
Bem cedo pela borda do campo e eu sonhava
Na areia fina da espuma do mar
E esse cheiro a maresia que ali havia
Como era lindo este mar bravo
Para mim na minha paz era calmo
Segui-a os barcos com o olhar
E ali de fronte lançando os aparelhos
Era faina que dava suores e muitas alegrias quando
havia
Encostada na barca na areia esperava sem canseira a mulher
Que partia bem cedo de canastra na cabeça
Para um mercado da sua vida
Subia e descia a rua apregoando a sardinha
fresquinha
Era mulher esposa e mãe
Tudo junto para quem tem
Um sorriso de sofrimento nesse momento
Era gente que na dureza do trabalho
Ainda tinha vontade de cantar
Lavar e de lutar
De lenço tricolor quando o homem estava em casa
Que logo virava a negro na despedida
De uma lágrima que sempre caía
Com o seu filho ao colo e outro ali ao lado
E mais abaixo o mais velho com ar de patrão
Numa casa onde faltava tudo até o pão
Vida dura esta de mulher esposa e mãe
Bendito seja para quem ainda a têm
O sino toca na igreja da vila
O vento assobia e a chuva a chegar
Nada impedia rezar uma Avé Maria
A todos os santos nesse dia
A chegada do barco que o trazia
São e salvo dos seis meses de faina
O meu Zé o primo Manel o António nosso vizinho
Que agora iria ver o menino
Que nasceu na sua ausência
Vida dura de mulher esposa e mãe
Metade do ano como pai
Na dureza desta vida que aqui se vivia
Tão perto do mar
Felizes ficávamos ao seu chegar
Uma mirada de relance
Uma lágrima que cai
Um soluço abafado
Pela chegada do Pai