Descendo a rua que me leva ao rio
Deixo os meus pais em chão raso
E tantos outros que perderam o pio
Mas não vou criar mais um caso
Os olhos não alcançam imagens de outrora
Onde os peixes saltitavam de alegria
Pescávamos ao abrir da aurora
Pão chouriço e um pouco de sangria
Resta-nos as memórias com saudade
Do dormitar no meio do canavial
Eu sei tínhamos outra idade
Mas era a nossa várzea fluvial
Ao longe a torre da igreja
Ali perto o Velho Marinheiro
Um copo de tinto que se veja
Tremoços e pipocas do milheiro
Ainda por lá se caminha
Em muitas outras direções
Mas ficou sempre preso à linha
A carpa o barbo e alguns pimpões
Vem o barqueiro na sua barca
No varejo com precisão
Ali mesmo que ele atraca
Vendendo o que traz no alçapão
Hoje nada disso existe
O morro tapou-nos a miragem
Mas o Povo esse persiste
Acabar de vez com a pilantragem