Fui
embora sem dizer nada
Estava
frio do outro lado muito frio
Olhei
para longe havia neve em camada
O
vento esse sentia-se pelo assobio
As
flores brancas das amendoeiras
Encostadas
ao verde dos castanheiros
Eram
as mais belas paisagens das beiras
Mas
sempre me faziam lembrar os sobreiros
Água
límpida gelada e cheia de bravura
Nestes
socalcos graníticos
Como
é bom sentir esta frescura
Esquecer
por algum tempo os eucaliptos
Sentei-me
fitando o horizonte
Uma
águia-real lá longe esvoaçava
Procurando
a sua presa de monte em monte
Fitou-a
já não lhe escapava
Por
momentos fechei os olhos e senti a sinfonia
Do
vento entre as arvores percorrendo montanhas
Só
aqui se perdia a minha ínfima agonia
Dos
homens e das suas manhas
O
sol flagelava-me sem magoar
Pela
distância entre o mar e serra
Que permitia que o meu sonhar
Viria a morrer nesta terra
Pedra
sobre pedra
Montanhas
que fazem parte do meu País
Onde
a liberdade nunca se perdeu
Foi
aqui que eu sempre quis
Pertencer
no meio de tudo o que ardeu
Terra
cinzenta de cheiro queimado
Vozes
agonizadas de um povo mal tratado
Risos dos lisboetas entrincheirados
Gritos
de revolta e muito irados
Assobio
e a montanha responde
Escrevo
a agonia do meu peito
Portugal
se esqueceu do meu leito
E vou só pela calçada desta ponte
Caio em mim dormindo neste quarto abafado
Numa
noite como tantas outras que vive
No
trinar duma guitarra e dum fado
Acordo
e digo para mim estou vivo