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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A rua que dava para o rio.

 


Descendo a rua que me leva ao rio

Deixo os meus pais em chão raso

E tantos outros que perderam o pio

Mas não vou criar mais um caso

 

Os olhos não alcançam imagens de outrora

Onde os peixes saltitavam de alegria

Pescávamos ao abrir da aurora

Pão chouriço e um pouco de sangria

 

Resta-nos as memórias com saudade

Do dormitar no meio do canavial

Eu sei tínhamos outra idade

Mas era a nossa várzea fluvial

 

Ao longe a torre da igreja

Ali perto o Velho Marinheiro

Um copo de tinto que se veja

Tremoços e pipocas do milheiro

 

Ainda por lá se caminha

Em muitas outras direções

Mas ficou sempre preso à linha

A carpa o barbo e alguns pimpões

 

Vem o barqueiro na sua barca

No varejo com precisão

Ali mesmo que ele atraca

Vendendo o que traz no alçapão

 

Hoje nada disso existe

O morro tapou-nos a miragem

Mas o Povo esse persiste

Acabar de vez com a pilantragem


quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

A eira amarela…

 



Sei que palavras escrevo no sofrimento

Nas histórias tantas vezes contadas

Nestas ruelas encardidas devido ao tempo

Numa eira cheia de saudades aladas

Que hoje recordo a minha mocidade

 

Batia-lhe o vento na tarde escaldante

A passarada esperava atenta seu tempo

E os movimentos sincronizados da gente

Que se movia durante o seu passatempo

Na espera do sino e da sua sonoridade

 

Por fim descansava comendo a bucha

Embrulhada no pano colorido na cesta

Aproveitando para olhar a pequerrucha

Que dormia ali ao lado a sua sesta

E olhava a tua beleza com promiscuidade

 

Rapidamente voltávamos ao trabalho

Porque o sol esse ainda estava alto

A passarada lá se mantinha no seu galho

Chilreando como fosse rolinha-do-planalto

As mulheres cantavam a sua religiosidade

 

Finalmente o sol desaparecia no horizonte

Entre os montes da Abrunheira

Era hora de levar o cântaro à fonte

Acender o lume e libertar da canseira

Apagar o candeeiro e entrar na cumplicidade

 

O vento assobia a sua música preferida

O frio entrava rapidamente e já se sentia

Na pele despedida de roupa uma ferida

E as rugas de um tempo duro que não fugia

Foi assim o tempo da minha mocidade

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Natal passou,,,

 

O que foi que dele ficou

Das mesas cheias

Algumas preces

As taças brindaram

E muito poucas ficaram

 

Sim a imaginação

De não receber um telefonema

Que ficou do lado de fora do portão

Vem aí outra festa

Com outras esperanças

Quem sabe se desta

Ficam as lembranças

E outras memórias

 

Quando se sonha

Vive-se novamente

Com tempo passado

Se é livre somente

De retratos apagados

Imagens escuras

Sorrisos bonitos

E muita loucura

Natal passou

E telefone esse não tocou


terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Os teus passos...

 


Corre nesta praia imensa, este azul a perder de vista

Onde o céu toca o mar e dança, nem tudo se conquista

Olhar triste e meigo, o sofrimento de nada ter

Onde eu sou um pobre leigo, que apenas sei sofrer

Não deito fora os meus sonhos, ouço músicas de encantar

Nem os amigos de outros tempos, porque esses me fazem sonhar

Quero dormir em cama de plumas, sorrir no teu sorriso luminoso

Um dia nas nossas tumbas, sossegados será o nosso pouso

Quem diria que esse dia vai tardar, nesta vida nada se faz sem sofrimento

Mas no nosso lar vamo-nos amar, por muito muito tempo

Teus beijos doces e carinhosos, teus abraços fortes e quentes

Teus passos seguros e entusiasmados, tuas mãos meigas e presentes

É Natal a neve cai lá na serra, o vento sopra geladinho

E nós por cá nesta terra, contentamo-nos com um abracinho

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

· O meu País

 

Quando abro a janela e vejo o mar revolto

Nuvens negras de raiva

Areia voando em remoinho

E pessoas fugindo do tempo

Esse que me mente constantemente


Na casa da democracia

Quem diria

Este meu País

Que sempre o quis

Me engana

Me destrói

Como caixa esburacada

Onde não fica nada


Vendem tudo o que não têm

E mais alguma coisa que sonham

Para bem da sua família

E tudo o demais é restolho


Olho novamente através da vidraça

Que não me deixa ver a praça

Onde a água vai chegando

Devagar fora do seu leito

Mas a preceito

Limpando o que resta

Pobre povo que acredita

Nos slogans dos trapaceiros

E eu aqui olhando o firmamento

Com algum desalento

Pelos meus companheiros


Que não sendo alcaides

Nem tendo pinheiros

São fazedores de contos

Viajando nos sonhos

Nas almas perdidas

Que estavam bem definidas

Quando crianças


Era noite

As luzes se acendiam lentamente

O candeeiro a petróleo

Tomava conta da sala

E lá longe ouvia-se o sino a tocar

Dava as horas certas e outras tantas

Entre meio


Na cama de penas me escondia

Onde ninguém me via

No alto do meu castelo

Bem perto do fontenário

Levava a bilha à cabeça e pela mão

Me segurava

E mais dois dedos de conversa

Ali estava


Era o jornal do dia

Por momentos tudo sorria

Voltávamos a casa

E com púcara de barro

Eu bebia essa água

Que ainda estava fria


Arregaçava as calças

Descalçava os sapatos

E corria

Em direção aos amigos

Que brincávamos todos os dias

Faça sol faça frio


Com canas e velas

Apanhávamos morcegos

E terminava o dia

Da mesma forma que tinha começado

Quando acordava

Todo tapadinho

Na minha cama de penas

Bem aconchegadinho


Foram tempos

De menino

Que não vão voltar

Por isso continuo a sonhar

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Quando se sonha!!!


 

Entre família de sorrisos e abraços

Entre mundos muito complicados

Entre gentes de outras razões

Entre ti e eu um mundo de ilusões

 

Fugi para longe dos teus olhares

Num comboio sem destino

Com a saudade no coração

E simplesmente com uma flor na mão

 

Por momentos fechei os meus olhos

E naquele trem de mil horas

Senti o teu coração

Deixei para trás as minhas ilusões

Fugi porque não tinha forças

Vi paisagens frias e brancas

E sobre nuvens o teu olhar

 

Adormecia onde dava jeito

E pela janela tentava olhar

Procurando o teu sorriso

No despertar chuvoso

Na terra fria e branca

Que me detêm entre a alegria e desgosto

 

Longe veio-me a saudade

Nem sem bem porque tardava

Se pelo sorriso pelo olhar

Ou unicamente pela verdade

 

Fomos apunhalados

Pelos que estavam perto

Ficamos por ali estirados

Percorremos o nosso deserto

 

Agora aqui à beira-mar

Nesta tempestade de inverno

Recordo esses tempos de amar

Que se ficaram para lá do inferno

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

NATAL


O sabor da sopa da avó

Da broa no forno a lenha

Nunca se deveria sentir só

Estamos no mês da castanha

 

O seu olhar carinhoso

Seus beijos doces de mais

Porque és tão teimoso

Mas voltas sempre ao cais

 

Dentro de mim a saudade

Do borralho das pipocas

Tudo passa com a idade

Mas sabes sempre voltas

 

Onde está o meu amado rio

Onde me levas praça antiga

Já nem se ouve nenhum pio

Nem uma leve cantiga

 

Na janela da saudade

Ali mesmo do outro lado

Mora lá a antiga mocidade

Que chora pelo seu fado

 

Visitas de quando em quando

Nos dias festas e romarias

Lá vão devagar pisando

Até ao quarto todos os dias

 

Natal porque demoras a chegar

São noites diferentes e com calor

Terminam rápido e ao levantar

Partiram como o Senhor no andor

 

Chego-me à janela e vejo-os partir

Num adeus já com muita saudade

Tenho de me conter e sorrir

Depois choro será da idade

 

Natal é Natal

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Os meus espelhos

 


Entrei na sala cheia de sorrisos

E imensos espelhos espalhados

Retribuíam-me os olhares

De mim mesmo ali espelhados

 

Era eu feliz no mês de dezembro

Com chuva à mistura do lado de fora

Que há muito não me lembro

Nem se ouve a criança que por vezes chora

 

O frio está aí de uma forma diferente

Porque tudo o que sinto na minha mente

É o facto de estar sozinho

Nem ouço o cão do vizinho

 

Não sei o que vou comer

A verdade nem fome tenho

Um pouco de sede de ler

As cartas com que me entretenho

 

Sim gosto de escrever

Ou simplesmente juntar palavras

Porque um dia alguém as vai ler

Mas sinto isso sim muitas saudades

 

Do aconchego

Do dormitar

Do sentir os teus sonhos

E do acordar

 

São momentos

Por vezes lamentos

São ais

Como nos postais

 

Neve chuva estrelas e saudades

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Grito

 



Sem olhar para outro lado

Na madrugada fria de inverno

Embrulhado em cobertores

Para não sentir as minhas dores

 

Mas fixo o teu olhar por momentos

E deixo-me navegar nas tuas águas

Nem por nada sinto os sofrimentos

Somente os dias belos sem mágoas

 

Queria voltar a subir de olhos fechados

Segurando a certeza firme das tuas mãos

Depois na varanda bem aconchegados

Vendo como brincam os irmãos

 

Na distância deste sonho perdido

Da viagem que há muito programada

Quem sabe se esse é o nosso destino

Sonhar e estar ao lado da pessoa amada

 

Não sou barqueiro nem barco tenho

Sou sonhador de palavras e música

Vamos amealhando algum dinheiro

E festas algumas por vezes muito lúdicas

 

 

Os sinos dobram anunciando a partida

Da procissão que sai do átrio

Ao dobrar da esquina fica retida

A senhora que chora ali no pátio

 

Perdeu o seu ente querido

Lágrimas secas de tanto chorar

Perdeu a vida estava muito ferido

De uma guerra que não vai parar

 

Assim segue o padre pelas ruas da aldeia

Cantando e rezando pelos filhos da terra

As gentes essas que seguem em alcateia

Rezam bem alto que se ouve lá serra

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

NA PRAÇA

 

Foto de Dilita - Blogue Renda de Birras

NA PRAÇA

 

De fronte da grande casa

Sentado nos bancos frios

Vendo a passarada a dar à asa

Para lá onde se juntam os rios

 

Rio velho e rio novo e uma vala desaparecida

Uma terra sem gente uma terra adormecida

 

Mal pintada calçada bonita

Nem o cheiro das espigas

Nas vestes das suas gentes

Nem sorrisos de criança

Que brincavam em roda-viva

 

Outros tempos de pobreza

De calças arremedadas

Da chieira da carroça

Do barqueiro atarefado

 

Nesse rio de águas transparentes

Da pesca com o tresmalho

Passando no fundo bem rentes

Gritando para lá da Barca ao Ramalho

 

E ficou-me na retina

A pasteleira a rodar

Onde se aprendia andar

Com grande dificuldade

As luzes acendiam-se e a correr

Subíamos a viela

Porque lá do alto da janela

Tudo ela vigiava

Era Montemor mesmo que não fosse Maior





ESVOAÇAR...

  Deixei-me ir ao sabor do vento Até encontrar a minha praia Fiquei sentado um momento Não sei onde anda a minha saia Escuto a mel...