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terça-feira, 19 de dezembro de 2023

O assobio do vento que passa

 

O vento que lá fora assobia

Não traz nada simplesmente frio

No beiral aconchega-se uma cotovia

De asa de lado estará ferida

A criança essa fica comovida

 

Pelo olhar do passarinho

Ali mesmo ao seu lado e sem medo

O irmão que olha para lá do firmamento

Esse sim com outro pensamento

 

Que tarda em chegar

Não podendo desejar que o sino toque

Vai-se deitar

 

Enroscado sinto um gemido

Finjo que não ouço por detrás da porta

Como é que não se ouve tão perto

Se não fosse o mandar calar

Pelo facto de o telefone tocar

 

É um velhinho coitadinho que deixa de respirar

A história de sempre

O coração esse não para de chorar

 

Por isso nas palavras que se juntam

Que se trocam que se misturam

Não se pode fingir que tudo está calmo

Que tudo está preso

 

Nem o vento pode soprar

Porque do outro lado está a tocar

Em cima da mesa fria

O prato intacto dos sabores

Que pelo olhar se comia

Mas que a vontade deixou os odores

 

Partir pela frincha da janela

E nem tentou segurar porque afinal

O sino não tocou e nem o cão ladrou

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

PORTUGAL NOS DIAS DE HOJE

 

Portugal

Não sei para onde vou

Nem sei que caminho tomar

Pela pobreza dos políticos estou

Pronto para fugir por este mar


Cinquenta anos governados

Que mais vamos apanhar

Por estes dois finórios

O comboio vai abalar


Que cor vou escolher

Que papelinho vou riscar

Olho para um já estou a ver

Não tenho vontade de votar


Irei eu escolher

Em consciência afinal

Que partido vai perder

Para não me sentir mal


Hoje apareceu o radical

Nada de bom nos vai trazer

E o mais certo e viral

É um dia desaparecer


Nesta vida sem horizonte

Onde tudo está mais caro

A saúde está a monte

Está tudo mais claro


São cunhas e telefonemas

Ninguém sabe quem discou

Devíamos cobrir de penas

Alcatrão quem nos pisou


São todos uns aldrabões

Paga povo desgraçado

Vais ficar sem os tostões

E mais uma vez enrascado


Porque sabem onde esconder

Escolhem juízes e procuradores

Está tudo apodrecer

Serão depois os seus dadores


De leis feitas à maneira

Aqui D’el rei

Do Minho ao Algarve

 


A GERAÇÃO QUE AOS FILHOS TUDO DEU

 



quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Sofrer ou viver...

 



Deixo fugir a flor da minha vida

por não conseguir olhar mais além

por sentir que afinal está perdida

por nenhures e do que lá vem

não se vive quando se parte

e não se parte para viver

deixemo-nos de rodeios

é um simples sobreviver

e nesta terra de olheiros

é fácil ficar-se a saber

que tudo o que se faz não somos pioneiros

porque sofrer não é viver

Partida ou chegada...

 


Uma flor

na hora certa

um violino perdido

um copo cheio de sonhos

uma mão pintada

arvore que deseja renascer

nesta minha alvorada

de fato negro

de partida

ou de chegada

Um Abraço...

 


Um livro aberto sobre um mar bravo

Uma gaivota procurando um porto de abrigo

E sobre a areia fina um cravo

As amarras de um pobre mendigo

Creio em tudo e no seu nada

Nas palavras cruéis que eu próprio escrevo

Nunca por nunca direi que não és amada

Porque isso é como encontrar um trevo

No olhar distante que a vista não alcança

Desenho um mapa para puder fugir

E por momentos sinto uma pequena dança

Que um dia senti ao não me deixares cair


Hora de partir...

 


Chegou a minha hora de dizer adeus

Pelas injustiças tantas vezes praticadas

Tenho pena por todos e pelos meus

Mas a vida não padece pelas horas dedicadas

Inveja podridão ou simples reclusão

Quero partir para não mais voltar

Deixa-me sair pela minha mão

É isso que pedes para desertar

Cambaleando salto degrau a degrau

Até chegar a minha liberdade

Vou apanhar um comboio ou mesmo uma nau

E voltar para minha cidade

A minha praia...ou não.

 


Sentado neste banco onde o sol me beija a cara

Cerro os meus olhos e deixo-me ir

Ao abrir revejo um barco que não pára

E nem bilhete tenho para poder sair

 

Preso a estas amarras invisíveis

Que o tempo mordazmente me ofereceu

São manhãs tardes e noites terríveis

Que só eu sinto quando fito o céu

 

Levanto-me e devagar percorro ao longo da praia

Sentindo o vento e olhando o esvoaçar das gaivotas

Depois sento-me novamente no banco antes que caia

E reparo que ao longe alguém atira algumas pelotas

 

Sinto o meu olhar meio enevoado da idade

E desenho algumas figuras nas nuvens

Afinal esta não é a minha cidade

E uma lágrima escorrega mirando os jovens

domingo, 24 de setembro de 2023

BAILADO...

 


O bailado na sua magnitude

Por aves belas e airosas

Às vezes nós com atitude

Transportamos também rosas

 

Entregamos ao nosso amor

Brancas amarelas e vermelhas

Para que ela sinta o odor

Do amor e não das tristezas

sábado, 23 de setembro de 2023

MAR...

 


Mar que navego sem medo

No descanso deste novo dia

Vai ser sim o meu segredo

Que há muito que não via

 

Mil cores e odores pairam no ar

E neste mar do meu encanto

Sinto-me quase a navegar

Qual não será o teu espanto


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Voar...

 



Queria saber voar

Para subir como Ícaro

Nunca mais voltar

Sim voar de braços abertos

Planar nos meus sonhos

Ouvir sifónia nada em concreto

Simplesmente voar

E lá do alto voltar e voltar

Como se tivesse perdido o norte

Mas com alguma sorte

Aprenderei a voar

Quem diria

Que este sonho

Se concretize um dia

De uma outra maneira

Dentro de um avião

Segurando a tua mão

Sim porque voar

Não sei

Mas sonharei

Porque não paga imposto

Daqui El-Rei

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Sonho II

 



Retirei-me do meu sonho a correr

Ou talvez mesmo sem saber

E da tela sais-te formosa

Tão bela e airosa

Furiosa ou talvez não

Era apenas ilusão

Ainda estava a dormir

Queria ver-te a sorrir

Mas fugiste tão depressa

Que eu também fui nessa

Voltei a adormecer

Afinal queria mesmo era te ver

                                                                     Luiz Pessoa

O teu olhar...

 


Sentir o teu olhar mesmo que distante

Saborear os beijos mesmo que seja miragem

É um amor isso sim constante

De versos loucos de rimas e bobagem

 

Julguei um dia ter um cavalo negro

De tão negro como a noite escura

E todos os dias o reintegro

Como fosse água da fonte pura

 

Nas dunas da nossa praia

Passeio devagar ao sabor do vento

Mas ali estás tu para que não caia

E parar este imenso sofrimento

 

Alma que chora porque deseja chorar

Lágrima que caí porque deve cair

E é neste imenso mar

Que ambos vamos partir

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Será...

 


Um passo de cada vez para ter sorte

Olhar inquieto pelo que te rodeia

O mundo esse anda sem norte

Com guerra fome e tudo o que odeia

 

Nos versos que escrevo com sentimento

Lavo a minha alma no meu pensamento

Mas tenho bem certo neste momento

O amor que existe cá dentro

 

Será

O que quer que seja

A música para os meus ouvidos

Será

Decerto o desejo de partir

E levar-te nos meus braços

E ambos vamos a sorrir

Será

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Caminhos...

 


Fui devagar neste longo caminho

Nesta vida que sempre abracei

Algumas vezes estive sozinho

Mas nunca por nunca desertei


Depois foram os filhos

Os gatos que nunca tive

Nunca me meti em sarilhos

Onde quer que estive


Amigos mais que muitos

Outros infelizmente partiram

Alguns isso sim foram tontos

Mas esses também sorriram


Nas manhãs algures por Bragança

Aos pardais íamos a passear

Pa lá com toda a cagança

Para cá tristes e sempre andar


Formiga de asa em cabaça de abóbora

Ratoeiras perfiladas e de aço

Subíamos o lameiro

Era assim o dia inteiro

Sempre no mesmo passo


Quando...

 


Quando acordamos e cansados nos sentimos

Quando abalamos e sozinhos vagueamos

Quando fugimos em algures ficamos presos

Quando despertamos e o sonho termina

 

Quando sentimos a música da nossa alma

Quando os livros esvoaçam em pleno dia

Quando as letras se unem na melodia

Quando termina este dia e volta a calma

 

Quando nos sentimos verdadeiramente ativos

Quando olhamos em paz o firmamento

Quando os filhos adormecem e nós vivos

Quando adormecemos finalmente

QUASE SONETO...

 

Nasci em terras entre montes verdes

Pinheiros castanheiros águas frias

Muito novo parti p'ra lugares

Dentro Portugal e além fronteiras

 

P'lo norte  neve frio  boa gente

Abalei depois terras de Espanha

Quando voltei cortei cabelo rente

Num dia calmo entrei pela manhã

 

Fiz um caminho longo sossegado

Terminei com agrado algum tempo

Agora neste Algarve assentei

 

Novas vistas contigo ao lado

Filhos crescidos no sabor do vento

Mas ainda decerto que não ficarei

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O PULSAR

 




Carreguei a cruz sem o saber

Espinhos se me cravaram na testa

Afinal é preciso muito sofrer

Até para dormir uma sesta

 

Um copo de vinho

Um naco de pão

Pode ser mesmo tinto

Sentado em pleno chão

 

O vento esse assobia

Mas mantem-se tudo quente

Há um canto de cotovia

E a lua está eloquente

 

Sobe a calçada apressado

Desejo sentir o teu pulsar

Por vezes ando um pouco stressado

De tanto subir este andar

 

Na mesa de tempos em tempos

Repasto de chorar por mais

Mas depois vêm outros ventos

E todos vós vos calais

Verão que vais abalar


Nas palavras que deixei de escrever

Sentimentos que partiram sem asa

Em tardes calmas até ao entardecer

Vou lutar até ao fim por esta causa

 

Olhares perdidos no quarto escuro

Em odores vagueando pelo ar

Sou assim para lá de ser puro

Porque amar é sentir e desejar

 

Navegas em águas um pouco agitadas

Num mar que tem tudo para ser calmo

Ali bem perto vão terminar as gaitadas

 

Deste verão que passou a correr 

Entre tantas coisas por fazer

E esse teu gosto de ler


ESVOAÇAR...

  Deixei-me ir ao sabor do vento Até encontrar a minha praia Fiquei sentado um momento Não sei onde anda a minha saia Escuto a mel...