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domingo, 24 de abril de 2022

A NOSSA PALAVRA

 


A NOSSA PALAVRA

Navegava sobre águas furiosas

Das minhas palavras e orações

Nesta vida cheia de ramos de rosas

E muito cravos e algumas devoções

 

Caminhei sobre essas mesmas águas

Que um dia o vi descalço a percorrer

Era miragem tinha umas tábuas

Pergunto porque o deixamos morrer

 

Nas aflições nos maus momentos e na dor

Rogamos-lhe o nosso perdão

Ele não escolhe nem momento nem cor

Para nos dar a sua salvação

 

E viajamos de terra em terra

Conversamos até com o prior

Praticando a nossa palavra

Um dia nos darão algum valor

terça-feira, 12 de abril de 2022

Caminhar

Sentido o odor desta maresia

Que de longe se aproxima de terra

Entra em meu corpo como poesia

E em breve vamos para a serra

 

Levamos no olhar a gratidão

Dos que deixamos há dias

Saudamos os vindouros com a mão

Olhamos os pastos onde há crias

 

Somos da planície do mar e da serra

Percorremos as freguesias com amor

Mas há mais valor que o homem da terra

Com suas alfaias e o seu suor

 

Sentamo-nos ouvindo muitas histórias

Algumas delas quase a choramingar

Outras tantas talvez impróprias

Essas nem vos vou contar

 

Venha o Zé o Manel e o ti António

Depois a Maria a Zulmira e a Albertina

Dizem alguns que são campónios

Escutamos os dizeres ao som da concertina

 

Visitamos castelos mosteiros e moinhos

Redescobrindo muitas lendas de encantar

Andamos de barca e a pé pelos caminhos

Nos arvoredos nas lezírias a saltitar

 

É a alegria da comunicação

Que desfrutamos a quatro ventos

Fazemo-lo apenas por grande devoção

Quando visitamos alguns conventos

quinta-feira, 7 de abril de 2022

VIAJAR PELAS FREGUESIAS



Viajar pelas Freguesias de barca ou a pé

Sentindo sabores e os trabalhos de um Povo

Subindo a castelos e viajando até à Sé

Redescobrindo e vivendo o que há de novo

 

As rugas do trabalho que por aí anda

A fome que avassala por estes lados

Por vezes sentimos esta vida estranha

Oremos e amarremos novos dados

 

Sorrisos de quem abraça a freguesia

Os poemas encantados

A mais bela sinfonia

Os versos embalados

Não somos os coitados

E viajamos a cada dia

 

Cantai poemas dos novos poetas

Abraçai os seus semelhantes

Sejam filhos primos ou netas

Dançai as músicas d’antes

 

Nesses ranchos de tantas cores

Dos saberes inteligentes de um povo

Sinto bem perto os timbres dos tambores

Nesse coreto que um dia vai estar novo


sábado, 2 de abril de 2022

Navegar

 

Levamos no coração muitas cantigas

Muitas histórias de outros tempos

Milhares de olhares e gente amigas

Que nos acompanham ao sabor dos ventos


É no olhar e no coração que as sentimos

Os choros de criança por embalar

E sempre que nos despedimos

Deixamos algo de nós para voltar

 

Ranchos poetas artesãos e populares

De mil cores e infinitos sorrisos

Na nossa barca vamos para outros ares

Divulgando também histórias de namoricos

 

Tocam trompetes e os cantos líricos

Na igreja na freguesia ou no lar

Batemos a todas as portas e alguns ricos

Com as suas histórias de encantar

 

Navegar nestes lugares que tanto amamos

É a alegria que esperamos não ter fim

Ouvir e saber escutar os seus lamentos

Na graça de um Povo assim

terça-feira, 29 de março de 2022

LOUCURA

Viajando sem rumo porque sou amante

Entre caminhos esbatidos e solitários

Escrevo o que sinto doravante

Irei ouvir outros entendidos e não otários


Quem nada faz muito critica

Já diz o ditado popular

Ou falamos de futebol ou política

Ou não nos deixam falar

 

Somos um povo de doutores e engenheiros

E outros tantos títulos rendilhados

Mas quem deseja ser uns simples obreiros

Temos os dias infernizados

 

Calai-vos inúteis da vida

Das palavras inúteis e bacocas

Por minutos sentem-se e siga

Outras que até podem ser loucas

 

Não sei nem sirvo para dar lições

Nem tenho tempo para divagar

Mas sentamo-nos aqui aos serões

E deixem-nos viajar

segunda-feira, 28 de março de 2022

1961

 Acordei

E ali mesmo por momentos senti que estava vivo

Todos tinham partido, mas sinto o calor humano

Que aqui deixaram onde sigo

Penso comigo mesmo afinal mais um ano

 

Ano de lutas vencidas de momentos inesquecíveis

De viagens que, entretanto, abandonadas

Voltaremos a elas sempre que possíveis

Venham dias melhores e outras programadas

 

Quem diria que aqui mesmo escrevo para ti meu amor

Palavras doces e amargas de vida e para vida

Muitas delas levam aquele nosso sabor

Por estarmos vivos e que a vida siga

 

Sejam caminhos tortuosos ou planícies verdejantes

Onde possamos encontrar de novo um lar

E conseguirmos sarar as nossas feridas dantes

Ouvir o vento, o sol as nuvens sentir o mar 

 

No horizonte uma ave descreve o seu bailado

Que foram sempre atribulados, mas do mesmo lado

Mas que outrora em terras do Norte foi selado

Um amor eterno nunca por nós abandonado 

 

Juraria que passaram dois anos e não mais

Para que hoje fosse recordado esse belo dia

Almoço num barco ali mesmo junto ao cais

Fizemos os três a nossa pequena sinfonia

 

Sorrisos pairaram no ar avermelhados

Como estavas bela e serena no teu mar

Nunca estivemos deveras atrapalhados

Porque foi por isso que soubemos lutar

 

Hoje aqui bem perto de Marrocos

Onde sempre desejamos habitar

As casas essas são muitos trocos

Vamos novamente abalar

 

A mesa está posta o jantar dentro de momentos

Parabéns, vamos todos cantar e aplaudir

São momentos para recordar são sentimentos

Jamais iremos assentar porque gostamos de partir

sábado, 19 de março de 2022

19

 


Onde estejas espera por mim

Sentado porque vou demorar

Quando chegar farei trim trim

Não te assustes não vou chorar

 

Levo na mão uma flor

E na outra uma carta que escrevi

Seja onde e quando for

Nunca mais esqueço quando te perdi

 

Francisco recorda-te das fotos

Que eu tinha e lhe mostrei

Ainda tem muitas pontas soltas

Porque era tão bebé quando o batizei

 

Foi um dia bem diferente

O último da tua da vida

Vejo-o hoje tão presente

É uma viagem só de ida

 

Onde estejas sorri por nós

Que vamos lutando por uma saída

Pandemia a guerra é sempre atroz

Mais valia dar-se a partida

ATÉ JÁ


Procurei nas prateleiras baús e gavetas

Nada encontrei de mãos dada ou cavalito

Que na figueira se fotografa ali mesmo ao lado

Do relógio sempre bem aperaltado

Tenho na memória o cachimbo

De barba preta

Depois branca

Lá no Norte no Moderno

No centro no Ponto de Encontro

De mãos dadas só rebuscando

Deve ser da idade que vai passando

Recordo o olhar o saber

O andar e quando partiste amargurado

Porque abandonaste muitos sonhos

Dos incompreendidos tanta gente

Todos eles se foram contigo

Naquela tarde amena

De dores de pensamentos e agonia

Hoje descanso aqui neste sofá

Olhado a barba negra que fugia

E dirijo-te um pequeno olá

Porque sinto deveras pena

É o nosso dia como se não fossem todos

Mas a alegria de receber o telefonema

Que no ano passado há mesma hora deixei

Recebemos forças nesta tarde amena

Aqui bem perto do mar bem serena

A areia o sol e vento

Rodopiam os cataventos

Nas chaminés brancas na serra

Fecho os meus olhos e viajo

Nesse fumo com cheiro a terra

Perto de ti que um dia vou encontrar

Nuvens brancas e músicas celestiais

Sobre um tapete de cores diversas

Nem sei bem se são persas

Possivelmente não

Mas viajo com o mesmo ticket

Do ano passado será cliché 

Que em nada melhorou

Mas cheiro um assado

Que o meu olfato cheirou

Tenho de acordar

A fome vai-me matar

Até já

Amo-te

 

Escrevi faz tempo muito tempo duas palavras

Entre elas havia simplesmente um traço

Que as perdi por isso sinto este embaraço

De as reescrever novamente sem máscaras

 

Sinto a escorrer lentamente com sabor a mar

Sem pressas porque te perdi faz tempo

Tantas guerras e discussões com alento

Que hoje sinto falta desse semear

 

No olhar havia uma vida bem presente

Davas-me a tua sabedoria todos os dias

Orientações e muitas lições sadias

Agora sinto falta por estares ausente

 

Amo-te seja onde estiveres sentado

Como diria o poeta alentejano deitado

Porque já esteve mais longe o reencontro

Mas hoje sinto-me (des) orientado

domingo, 13 de março de 2022

Viagem ...


Viajei em sonhos pelos campos despidos de gente

Arregacei as mangas da camisa que suei por dentro

Levei no pensamento a liberdade da minha mente

Palmilhei ruas vielas avenidas e fui até ao centro

 

Vi ali mesmo no jardim os utensílios de outrora

De homens e mulheres que deram o seu melhor

Ali perto junto a um valado os restos de uma nora

Que dava de beber ao gado ao campo e ao senhor

 

Dei voltas nesta terra de muitos alfaiates

Que se perderam com o tempo na solidão

Ainda hoje alguns mandam uns bitaites

Lembrando ferros que se alimentam a carvão

 

Levo na mão caneta e muitos sonhos

Que desejo encontrar aqui bem perto

Muitas histórias lendas nos propomos

a contar para ficar conosco bem desperto 

sexta-feira, 11 de março de 2022

Espuma Branca


Imagem: Shutterstock

 

O sol coloca-se no horizonte sorridente

Nesta manhã que acorda lentamente

O voo da gaivota sobe até poente

Deixando sobre areia a espuma reluzente

 

A varina apressa-se para faina do dia

Apregoando com sons bem definidos

A sardinha o carapau e a enguia

Passando pela lampreia com sons tinidos

 

Ali ao lado na esperança do sintético

A juventude treina no pelado

Anda tudo cada vez mais elétrico

Já ninguém aguenta estar calado

 

Perguntamos à sociedade viva

O porquê desta distância

Nas eleições aparecem e siga

Mas a pedra está com relutância

 

Os seus Homens de rugas queimadas

Da faina da dureza do tempo

Foram tempos de vidas ceifadas

Venham agora outro passatempo

 

Sentado mirando o mar

Sem agonias dos tempos idos

Abraço o neto e o seu olhar

No firmamento de dias vividos        


 Poema ao Mar por Luiz Pessoa 11/03/2022

ENTRE MAR...