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sábado, 14 de janeiro de 2023

MEU FADO

 


Corri em direção ao rio 

Que me alimenta a alma 

Me tira este meu frio 

A saudade de tarde calma 

Junto de ti  

Eu sorrio 

 

Nas margens cobertas de verde 

No horizonte com o teu castelo 

Na estrada onde se perde 

Tristezas sonhos do velho do restelo 

Junto de ti  

Sorrio 

 

Vagueo pelas palavras perdidas 

Das tardes tão bem passadas 

Tento sarar algumas feridas 

Que me queimam e estão repassadas 

Junto de ti 

Sorrio 

 

O peixe desapareceu 

E com ele a faina de outrora 

Quem foi que enriqueceu 

Para voltar a tirar água da nora 

Junto de ti 

Sorrio 

 

Neste velho Marinheiro 

Onde me sento e sinto 

Esta brisa e soalheiro 

De um Mendes que minto 

Junto de ti 

Sorrio 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

G R I T O

 


Grito que é grito de fome ou de raiva

Do coração ou na busca de pão

Continua a ser de dádiva

E sem satisfação

 

Doi por dentro

Queima por fora

Não é passatempo

E soa a qualquer hora

 

Fome raiva e sofrimento

Chuva que cai atravessada

Tudo foi em detrimento

Quem manda e é empossada

 

Fugi de mim mesmo em  momentos

Cavalguei em loucas pelas crias

Agora sigo sossegado pelos tempos

À beira-mar em noites frias

 

Chorei lágrimas salgadas

Estremeci ao sentir a tua voz

Muitas preces revogadas

Ou simplesmente um porta-voz

 

Grito o mais alto possível

Para ouvir a minha agonia

De um ser bem desprezível

Que anda por aí em plena via

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Olhar distante...

 


Olho o castelo imponente e majestoso

Com uma lágrima no canto do olho

Nos meus sonhos vejo como está airoso

Mas de repente sinto o restolho

 

Do alto das suas ameias

Pombos bravos revoltam sem medo

Fazem círculos sobre lírios das areias

E voltam depois ao seu rochedo

 

Mais além depois dos campos

Entre salgueiros e canaviais

Um adormecer com os santos

E o reviver os lindos arraiais

 

O sol ao longe se vai pondo

Descendo no horizonte lentamente

Aqui estou eu quando sonho

E amar a terra somente

 

O rio esse é o meu pranto

A paz que tanto me alivia

Minha vida meu espanto

Dos momentos que convivia

 

Vagueando por este meu Portugal

De norte a sul e mais além

Basta a fortaleza conjugal

Para que me encontre bem

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A rua que dava para o rio.

 


Descendo a rua que me leva ao rio

Deixo os meus pais em chão raso

E tantos outros que perderam o pio

Mas não vou criar mais um caso

 

Os olhos não alcançam imagens de outrora

Onde os peixes saltitavam de alegria

Pescávamos ao abrir da aurora

Pão chouriço e um pouco de sangria

 

Resta-nos as memórias com saudade

Do dormitar no meio do canavial

Eu sei tínhamos outra idade

Mas era a nossa várzea fluvial

 

Ao longe a torre da igreja

Ali perto o Velho Marinheiro

Um copo de tinto que se veja

Tremoços e pipocas do milheiro

 

Ainda por lá se caminha

Em muitas outras direções

Mas ficou sempre preso à linha

A carpa o barbo e alguns pimpões

 

Vem o barqueiro na sua barca

No varejo com precisão

Ali mesmo que ele atraca

Vendendo o que traz no alçapão

 

Hoje nada disso existe

O morro tapou-nos a miragem

Mas o Povo esse persiste

Acabar de vez com a pilantragem


quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

A eira amarela…

 



Sei que palavras escrevo no sofrimento

Nas histórias tantas vezes contadas

Nestas ruelas encardidas devido ao tempo

Numa eira cheia de saudades aladas

Que hoje recordo a minha mocidade

 

Batia-lhe o vento na tarde escaldante

A passarada esperava atenta seu tempo

E os movimentos sincronizados da gente

Que se movia durante o seu passatempo

Na espera do sino e da sua sonoridade

 

Por fim descansava comendo a bucha

Embrulhada no pano colorido na cesta

Aproveitando para olhar a pequerrucha

Que dormia ali ao lado a sua sesta

E olhava a tua beleza com promiscuidade

 

Rapidamente voltávamos ao trabalho

Porque o sol esse ainda estava alto

A passarada lá se mantinha no seu galho

Chilreando como fosse rolinha-do-planalto

As mulheres cantavam a sua religiosidade

 

Finalmente o sol desaparecia no horizonte

Entre os montes da Abrunheira

Era hora de levar o cântaro à fonte

Acender o lume e libertar da canseira

Apagar o candeeiro e entrar na cumplicidade

 

O vento assobia a sua música preferida

O frio entrava rapidamente e já se sentia

Na pele despedida de roupa uma ferida

E as rugas de um tempo duro que não fugia

Foi assim o tempo da minha mocidade

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Natal passou,,,

 

O que foi que dele ficou

Das mesas cheias

Algumas preces

As taças brindaram

E muito poucas ficaram

 

Sim a imaginação

De não receber um telefonema

Que ficou do lado de fora do portão

Vem aí outra festa

Com outras esperanças

Quem sabe se desta

Ficam as lembranças

E outras memórias

 

Quando se sonha

Vive-se novamente

Com tempo passado

Se é livre somente

De retratos apagados

Imagens escuras

Sorrisos bonitos

E muita loucura

Natal passou

E telefone esse não tocou


terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Os teus passos...

 


Corre nesta praia imensa, este azul a perder de vista

Onde o céu toca o mar e dança, nem tudo se conquista

Olhar triste e meigo, o sofrimento de nada ter

Onde eu sou um pobre leigo, que apenas sei sofrer

Não deito fora os meus sonhos, ouço músicas de encantar

Nem os amigos de outros tempos, porque esses me fazem sonhar

Quero dormir em cama de plumas, sorrir no teu sorriso luminoso

Um dia nas nossas tumbas, sossegados será o nosso pouso

Quem diria que esse dia vai tardar, nesta vida nada se faz sem sofrimento

Mas no nosso lar vamo-nos amar, por muito muito tempo

Teus beijos doces e carinhosos, teus abraços fortes e quentes

Teus passos seguros e entusiasmados, tuas mãos meigas e presentes

É Natal a neve cai lá na serra, o vento sopra geladinho

E nós por cá nesta terra, contentamo-nos com um abracinho

ENTRE MAR...