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quarta-feira, 12 de outubro de 2022

48 anos depois

 


Escrevi uma carta que a fechei numa gaveta

Onde palavras soltas me vieram à memória

Para alguém um dia a possa atirar na sarjeta

E assim eu me sentir nos meus dias de glória

 

Tentei lembrar-me de bons momentos

Dessa juventude agitada adolescência

Que se vive após a revolução

Do meu coração

No fim do mundo

 

Frio foi logo o que me veio à memória

Entre o branco e calçada escorregadia

Um grito duma senhora em agonia

Nesse dia de tanta mudança e alegria

 

“Aí meu deus rios de sangue para lados de Lisboa”

E com a mão segurando o seu lenço na cabeça

Subia a estrada até lá arriba ao pé do Cabanelas

Onde outros tantos vinham ver o que se passava à janela

 

De pasta na mão dirigi-me ao Liceu

Segui o trilho de outros dias

Ali mesmo junto ao quartel

Onde tudo estava em alvoroço e escondido

Em trincheiras feitas na hora

Esperando que alguém lhes dissesse  

Terminou agonia

Ganhamos nem sei bem o que

Era quinta não houve aulas

Viemos para praça gritar

Liberdade

sábado, 13 de agosto de 2022

A NOSSA PRAIA

 


Entre o sol e o mar deste meu País

Nas palavras e nos sons de encantar

Em praias lindas vai desaguar o Liz

E momentos únicos de embalar

 

Foram tantos os sonhos que fizemos

Alguns ficaram mesmo dentro do lar

Muitos deles que nos propusemos

Ainda hoje procuram novo voar

 

Era terra cheiro e alegria

E os aviões ali mesmo ao nosso lado

Pela noite na praia bebia-se uma sangria

E por vezes ouvia-se tocar o fado

 

O cheiro a maresia era fatal

Era o nosso gosto a nossa viagem

Havia também dias de vendaval

Mas sempre foi a nossa paragem

sábado, 23 de julho de 2022

Música aos domingos.

 

Música aos domingos.

 

Coloco palavras sentidas neste papel que me alimenta

Com formas cores e muitos sons misturados ao vento

Depois fecho os olhos e recordo a tristeza sonolenta

Crianças com sorriso e o seu olhar de desalento

 

E nestas cordas da minha viola dedilho uns sons

Que por muito maus que sejam são o meu alimento

Destas palavras bravas com sabor e alguns tons

Dos momentos que vivemos em pleno sofrimento

 

Ali mesmo ao nosso lado do outro lado do muro

Esse fogo que se alimenta da cobardia dos homens

Ao longe foge a criança perdida no seu murmuro

Não sabe para onde ir e tem medo dos lobisomens

 

É nesse olhar inquietante que reluz para nós

A mistura do medo da tristeza e da procura

De uma mão que lhe ensine a fugir do albatroz

Esvoaçando com fome esperando a captura

 

O sol se esvaia entre fumo e nuvens negras

Deixando para trás estes sorrisos perdidos no ar

O Homem esse continua a desgraça e sem regras

Destruindo o mundo dos seus sonhos e o seu lar

 

Esperança essa que tarda tanto em chegar

Dinheiros entram nem sabemos para onde vão

Salve-se quem o pode com sacrifício o apanhar

Porque tudo o mais é sorte e pura ilusão


domingo, 10 de julho de 2022

Cravos Caídos

 


Criei uma flor nos meus sonhos sem odor

Queria que fosse minha neste mundo em fogo

Em que ninguém hoje em dia tem pudor

De desbaratar os milhões com o seu amigo

 

Lá fora a pobreza aumenta dia após dia

A fome volta a casa sem pedir licença

A mãe já não tem leite por covardia

Dum governo que nem nos trata na doença

 

São sonhos perdidos de muitos anos

Em que a liberdade tardava em chegar

Ministros e secretários muito levianos

E nós nem os podemos denegar

 

Somos dos últimos da Europa

E daqui não vamos sair

Talvez quem saiba se volta a tropa

Para nos livrar destes de decair

 

Lágrimas sonhos e os afetos

Partem sem querer mais voltar

O que vai ser dos nossos netos

Se nem vontade temos de lutar

sábado, 25 de junho de 2022

A ESPERANÇA É UM SONHO ACORDADO



Uma manhã diferente de tantas outras

No olhar levo a esperança de um povo

E um emaranhado de palavras soltas

Que muitos de vós me chamaram de tolo

 

Mas levo também muita esperança

De tempos idos em terras do Mondego

Que por demais deseje a lembrança

Adormeço neste meu sossego

 

Sonho com verdejantes arrozais

E das tardes calmas e quentes

Que por entre esses milharais

Deixei decerto algumas sementes

 

Agora a quilómetros de distância

Sinto o pulsar dessa minha gente

Possivelmente será a minha ignorância

Mas a vida faz-se correndo para frente

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Vaga de espuma branca


Acordo de madrugada com cheiro a maresia

Abro a minha janela virada para este mar

E com o olhar no horizonte tudo o que eu via

Era a faina que dia após dia me fazia levantar

 

Com os remos nas minhas mãos fortes

Lanço-me sobre ondas de espuma branca

Por momentos fico entregue às minhas sortes

Que Deus me traga vivo para terra santa

 

Costa de Lavos que te deixo por momentos

Terra que um dia vi amanhecer

Somos Homens de muitos sofrimentos

Pela arte que dia após dia vamos vencer

Vendedora de outros tempos...