Número total de visualizações de páginas

42386

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Caminhos...

 


Fui devagar neste longo caminho

Nesta vida que sempre abracei

Algumas vezes estive sozinho

Mas nunca por nunca desertei


Depois foram os filhos

Os gatos que nunca tive

Nunca me meti em sarilhos

Onde quer que estive


Amigos mais que muitos

Outros infelizmente partiram

Alguns isso sim foram tontos

Mas esses também sorriram


Nas manhãs algures por Bragança

Aos pardais íamos a passear

Pa lá com toda a cagança

Para cá tristes e sempre andar


Formiga de asa em cabaça de abóbora

Ratoeiras perfiladas e de aço

Subíamos o lameiro

Era assim o dia inteiro

Sempre no mesmo passo


Quando...

 


Quando acordamos e cansados nos sentimos

Quando abalamos e sozinhos vagueamos

Quando fugimos em algures ficamos presos

Quando despertamos e o sonho termina

 

Quando sentimos a música da nossa alma

Quando os livros esvoaçam em pleno dia

Quando as letras se unem na melodia

Quando termina este dia e volta a calma

 

Quando nos sentimos verdadeiramente ativos

Quando olhamos em paz o firmamento

Quando os filhos adormecem e nós vivos

Quando adormecemos finalmente

QUASE SONETO...

 

Nasci em terras entre montes verdes

Pinheiros castanheiros águas frias

Muito novo parti p'ra lugares

Dentro Portugal e além fronteiras

 

P'lo norte  neve frio  boa gente

Abalei depois terras de Espanha

Quando voltei cortei cabelo rente

Num dia calmo entrei pela manhã

 

Fiz um caminho longo sossegado

Terminei com agrado algum tempo

Agora neste Algarve assentei

 

Novas vistas contigo ao lado

Filhos crescidos no sabor do vento

Mas ainda decerto que não ficarei

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O PULSAR

 




Carreguei a cruz sem o saber

Espinhos se me cravaram na testa

Afinal é preciso muito sofrer

Até para dormir uma sesta

 

Um copo de vinho

Um naco de pão

Pode ser mesmo tinto

Sentado em pleno chão

 

O vento esse assobia

Mas mantem-se tudo quente

Há um canto de cotovia

E a lua está eloquente

 

Sobe a calçada apressado

Desejo sentir o teu pulsar

Por vezes ando um pouco stressado

De tanto subir este andar

 

Na mesa de tempos em tempos

Repasto de chorar por mais

Mas depois vêm outros ventos

E todos vós vos calais

Verão que vais abalar


Nas palavras que deixei de escrever

Sentimentos que partiram sem asa

Em tardes calmas até ao entardecer

Vou lutar até ao fim por esta causa

 

Olhares perdidos no quarto escuro

Em odores vagueando pelo ar

Sou assim para lá de ser puro

Porque amar é sentir e desejar

 

Navegas em águas um pouco agitadas

Num mar que tem tudo para ser calmo

Ali bem perto vão terminar as gaitadas

 

Deste verão que passou a correr 

Entre tantas coisas por fazer

E esse teu gosto de ler


quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Meu Rio...

 


Acordei neste meu rio imaginário

Onde o sol nascia lá bem distante

Ouvindo o som de um canário

Em calmas águas por um instante

 

O reflexo me deixava encantado

Preso por momentos no pensamento

Depois tentava descobrir fitando

O que ficava para lá do firmamento

 

E assim segui o meu caminho

Sobre águas ao sabor da corrente

E o canário lá ficou no seu ninho

 

Hoje em terras distantes caminho

Perdi-te meu rio o conhecimento

Salve-se estes lençóis de puro linho

sexta-feira, 2 de junho de 2023

POEMA AOS "FARISEUS"



SEPARAR ENTRE DOIS MUNDOS DESTINTOS

O PENSAMENTO ERRÓNEO DAS NOSSAS VIDAS

MAIS VALE PERDER-SE POR ALGUNS TINTOS

E ESQUECER ESSAS VIAGENS ESSAS IDAS

É O PODER DO DINHEIRO QUE SE ENCAIXA

DESDE QUE CHEGUE A SUA CARTEIRA

TUDO O RESTO É O QUE SE REBAIXA

PERDEMO-NOS E VAMOS DE BATEIRA

JÁ NÃO OUVIMOS OS SINOS DA COLINA

NEM O ESVOAÇAR DA PASSARADA

É ESTE ÓDIO QUE NOS DOMINA

NUMA TERRA QUE JÁ FOI ARADA

sexta-feira, 31 de março de 2023

O “coro” das Velhas

 




De manhã cedinho pinturas a condizer

Espartilho preparado com sapato calçado

Sem respirar com sorrisos de amanhecer

A hora está a chegar de mirar o empregado

 

Abrem-se os botões

Dão-se umas risadas

Caem uns tostões

É dia das miradas

 

Não sendo dia de feira

Lá se vai caminhando

Há festa na eira

Em ambiente apinhado

 

Soltam-se os sorrisos

Bem mascarados

Estão noutros pisos

Bem embrulhados

 

É dia de festa

Cantam os pardais

Depois de uma sesta

Atacam os milharais

 

Um dia de risota

E algumas facadas

Vai ele de mota

Com as mãos atadas

 

Olhares perdidos

Num limbo escuro

Sons sentidos

Dum um lume puro


terça-feira, 21 de março de 2023

Poesia sem dor…

 


Poesia sem dor…

Escreveria uma poesia

Para os que partiram

Que deixaram a sala vazia

Com odor estranho

Neste coração abalado

E aqui estou eu sentado

Escrevendo corrido

Depois de ter passado

Um dia sossegado

Que não fui achado

Nem lembrado

Afinal a vida é assim

Não se necessita

Não se telefona

Fico contente

Porque não há fome

Desta janela bem alta

Vejo o mar calmo

E lá ao longe a malta

A brincar na areia

Cerro os meus olhos e salta

Há memória

A ponte que faria toda a diferença

Se não fosse a noite

Escura e sem volta a dar

E tudo seria diferente

Até a minha mente

Que se fecha dentro de si própria

Para se libertar

Escrevo para os que partiram

Porque esses já não vão voltar

Ficou a dor

E o odor desta sala vazia

Com vistas para o mar

domingo, 19 de março de 2023

PAI...

 

Pai…


No correr das palavras

Sentidas e perdidas no tempo

Dos encontros semanais

De conversas por vezes banais

Mas era o nosso momento

 

Foram tempos e sorrisos perdidos

Que ficaram na memória

Desses tempos idos

Com alguma glória

 

No correr das palavras

Que um dia tiveram luz

Ficam aqui lavradas

Foi mesmo a nossa cruz

 

Nunca amou os seus (1)

Com olhares desconfiados

Todos deveriam ser plebeus

E entre muros confinados

 

Praça vazia

Rio sem vida

Palavras com azia

De torre envolvida

Terra árida

Pensamentos no momento

Festas e festarolas

Com sabores ao vento

Até um dia

Pai

(1) Montemor-o-Velho

quarta-feira, 8 de março de 2023

Abri um livro...

 


As palavras estavam ali

No meu olhar a esperança perdida

Os sentimentos que vagueiam

A luz que me ilumina

Nesta estrada

Nesta vida

E folha após folha

Histórias de encantar

Quem sabe se as inventei

Ou simplesmente

Lhes dei vida

E escondido entres as palavras

Um pássaro esvoaçou

Assustei-me

E uma a uma as pequenas letras

Tomaram a liberdade de voar

E acompanhar o bailado desse pássaro

Que assutado me olhava sem saber

Para onde ir

Contrui com novas letras frases

Um poema

Esse foi o meu dilema

Voltei a prender o pássaro

Que tinha conquistado

A liberdade


ENTRE MAR...