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quinta-feira, 10 de julho de 2025

As Lavadeiras do Mondego

 

Às margens do Mondego

Ao romper da alvorada, no nevoeiro leve,

Deslizam figuras pelo rio sagrado,

Lenços brancos na cabeça, saias já gastas,

Mãos calejadas, olhos de fado.

Lá vão as lavadeiras, destemidas e firmes,

Com risos e cantigas a ecoar pelo ar,

Entre pedras e espuma, entre segredos e águas,

Lavam memórias que a corrente vai levar.

O Mondego reflete as histórias contadas

Por cada peça torcida sob o sol a brilhar,

Suspiros de amores, promessas guardadas,

Esperanças lançadas num simples olhar.

Cada bata batida é um verso escondido,

Cada sabão, um sonho a escorrer;

Na dança das águas, no cheiro do linho,

O tempo esquece-se de correr.

Quando o dia se despede e o vento amansa,

Recolhem as lavadeiras o que é do seu labor,

Deixando nas margens poemas de esperança,

Tecidos na espuma com mãos de amor.

sábado, 5 de julho de 2025

Fado – Mudar de Casa

 

Fado – Mudar de Casa

Deixo aqui um exemplo de letra inspirada nesta temática, onde se cruzam os sentimentos de perda e esperança:

 

Deixo a casa onde vivi,

Com janelas viradas ao sol,

Levo caixas de memórias,

E um coração sem lençol.

 

As paredes guardam segredos,

Que só o silêncio ouviu,

Despeço-me dos meus medos,

Num fado que nunca partiu.

 

Mudar de casa é saudade,

É um nó preso na garganta,

Mas há sempre uma verdade,

Num lar novo, que se canta.

 

E ao abrir nova porta,

Com receio e com desejo,

A esperança não é morta,

É fado no primeiro beijo.

Sem Abrigo

 

 Sem Abrigo


Na rua dorme a alma sem guarida,

Abraça o frio em véu de solidão,

Nos olhos leva a sombra da partida,

E aos pés, o pó calado do chão.

 

O vento escreve histórias no papel

Rasgando o peito nu de esperança,

E a chuva cai, cortina de um cruel

Cenário onde a vida pouco avança.

 

Mas dentro do silêncio, um novo dia

Desponta tímido, promessa leve,

No olhar cansado mora a poesia

 

Que o mundo ignora e que a alma escreve.

Mesmo entre pedras, nasce uma flor,

Revela o abrigo oculto do amor.


DEDICO AO MEU FILHO (BENJAMIM)

Levo na mão o meu coração

 

Levo na mão o meu coração

Soneto inédito


Levo na mão o meu coração, pulsante,

Como quem traz um lume em madrugada,

É chama viva, lume vacilante,

Que arde, resiste, e nunca é apagada.

 

No centro breve da palma, reticente,

Este órgão frágil, mundo inteiro encerra,

É rosa aberta, é sonho, é semente

Que se oferece ao risco e à espera da terra.

 

Ando no mundo de peito descoberto,

Coração exposto à sombra e à ventania,

Cada batida é um gesto, um verso aberto,

 

Na transparência rude do meu dia.

E mesmo quando a noite é tempestade,

Carrego-o aceso, em fé e claridade.

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Soneto ao Vento

 

Soneto ao Vento

[Poesia dedicada à liberdade e ao movimento do ar]

 


Sussurra o vento histórias no arrebol,

Desenha sombras leves entre as folhas,

Canta canções antigas, sons de escol,

Desata os nós das tardes tão tristonhas.

 

Nas praças voa livre, sem fronteira,

Ergue-se em asas, dança pela estrada,

Traz o perfume azul da primavera

E leva embora a dor já superada.

 

Companheiro fiel das andorinhas,

Segredo das marés e dos destinos,

Espalha sonhos, colhe as alvoradas.

 

Assim o vento segue, sem descanso,

Costurando no tempo os seus caminhos,

Mestre do céu, senhor das madrugadas.

Quando a Criança Parte e a Velhice Vence


Quando a Criança Parte e a Velhice Vence

Poema sobre o tempo e a passagem da vida

Quando a criança parte,

Leva consigo o riso fácil,

O brilho leve das manhãs,

O cheiro doce da inocência

Que dançava no ar.

Quando a criança parte,

A casa silencia por dentro,

Os brinquedos repousam,

A esperança, inquieta, relê

Os desenhos nas paredes.

E então a velhice avança,

Pé ante pé, sem pressa,

Trazendo rugas de memórias,

E um cansaço que se aconchega

No sofá da sala vazia.

A velhice vence não por força,

Mas por constância:

É a noite que sucede mil crepúsculos,

É o eco de vozes distantes

Que já não cabem no corpo frágil.

E no espelho, restam janelas

Para um tempo onde tudo era começo,

Mas o olhar, ainda que cansado,

Agradece à criança que partiu

Por ter ensinado a sonhar.

Porque a velhice só vence

Quando aceita no coração

Que a criança partiu,

Mas deixou rastro de luz

Para iluminar o caminho da solidão.


Vendedora de outros tempos...