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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Quase Doutor

 


Podia ter sido tanta coisa e coisa nenhuma

Os sonhos que ganhei pela minha liberdade

As estradas que descobri pela aventura

Memórias que tenho vivido com a idade

 

Sorrio aqui sentado no silêncio da escuridão

E recordo tantas loucuras sem telemóvel

Outras tantas travessuras quase caio no chão

Vivi dentro do meu mundo e longe de tudo

Agora já é tarde, mas continuou a sonhar

Com o brilho do rio visto da ponte

Com o cantar da passarada na alvorada

Ali estava eu encostado a ver nascer o sol

Sim porque era quase madrugada

Fui quase doutor contei tantas vezes aquelas escadas

Comi na cantina à beira da estrada

Dormi aqui e ali sem me preocupar

Viajei de pé e deitado nos combóis da noite

Cantei o hino dezenas de vezes

Voei em caças, helicópteros e outras aeronaves

Tive bicicleta skate e outras rodas

Percorri este nosso Portugal de lés a lés

Centro – Beira – Trás-os-Montes- Alentejo e Algarve

Quase marinheiro em dias de agonia

Basquetebol, Badminton, ping-pong, futebol e pesca

Voleibol em terrenos de Bombeiros

E visitei outros Outeiros

Apanha da pera e da maça

Da vindima à laranja

Da Oliva a plantar pinheiros

Só faltou mesmo alguns sobreiros

E aqui estou eu sentado sorrindo

Para um país preocupado com as incompatibilidades

Eu diria muitas habilidades

A luz a subir

O pão a ficar mais caro

A gasolina em flecha

Vamos voltar à vela

Que nos salve a oração

Que anda pelas horas da amargura

Há que esfregar bem o chão

Maternidades a fechar

Bancos a roubar

Políticos a zarpar

E a justiça ajudar

Onde vamos parar

Com esta confusão

Com a guerra à porta

E não temos mão

Oferecemos aeronaves que não voam

Pedimos dinheiro para alguns

Os sinos esses que já soam

O FMI está aí

Sem bater à porta entra de roupão

Leva-nos tudo até o coração

Volto à terra e sorrio

Afinal nada disto é novo

O filme já passou

Fui quase doutor…

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Quase Soneto



Canto um soneto amargurado

De trotinete fechada na mão

Gelado de chocolate preto

Quase que o deixava cair no chão

 

Mas sabem como era gostoso

Me esforcei para o deliciar

E pela estrada foi mui pomposo

Sorria para mim e para o ar

 

Gostava de saber escrever sonetos

Nestes dias difíceis da minha vida

Que tardam em chegar os meus netos

 

Se houver para terras do Norte

Fico feliz por eles e por mim

Que um dia decerto vou ter sorte


48 anos depois

 


Escrevi uma carta que a fechei numa gaveta

Onde palavras soltas me vieram à memória

Para alguém um dia a possa atirar na sarjeta

E assim eu me sentir nos meus dias de glória

 

Tentei lembrar-me de bons momentos

Dessa juventude agitada adolescência

Que se vive após a revolução

Do meu coração

No fim do mundo

 

Frio foi logo o que me veio à memória

Entre o branco e calçada escorregadia

Um grito duma senhora em agonia

Nesse dia de tanta mudança e alegria

 

“Aí meu deus rios de sangue para lados de Lisboa”

E com a mão segurando o seu lenço na cabeça

Subia a estrada até lá arriba ao pé do Cabanelas

Onde outros tantos vinham ver o que se passava à janela

 

De pasta na mão dirigi-me ao Liceu

Segui o trilho de outros dias

Ali mesmo junto ao quartel

Onde tudo estava em alvoroço e escondido

Em trincheiras feitas na hora

Esperando que alguém lhes dissesse  

Terminou agonia

Ganhamos nem sei bem o que

Era quinta não houve aulas

Viemos para praça gritar

Liberdade

Ao Meu Amor

  Amor, em ti encontro meu abrigo, Nas horas de dor, és meu consolo. Teus olhos são estrelas que persigo, Teu sorriso é o mais belo ...