O vento que lá fora assobia
Não traz nada simplesmente frio
No beiral aconchega-se uma cotovia
De asa de lado estará ferida
A criança essa fica comovida
Pelo olhar do passarinho
Ali mesmo ao seu lado e sem medo
O irmão que olha para lá do firmamento
Esse sim com outro pensamento
Que tarda em chegar
Não podendo desejar que o sino toque
Vai-se deitar
Enroscado sinto um gemido
Finjo que não ouço por detrás da porta
Como é que não se ouve tão perto
Se não fosse o mandar calar
Pelo facto de o telefone tocar
É um velhinho coitadinho que deixa de respirar
A história de sempre
O coração esse não para de chorar
Por isso nas palavras que se juntam
Que se trocam que se misturam
Não se pode fingir que tudo está calmo
Que tudo está preso
Nem o vento pode soprar
Porque do outro lado está a tocar
Em cima da mesa fria
O prato intacto dos sabores
Que pelo olhar se comia
Mas que a vontade deixou os odores
Partir pela frincha da janela
E nem tentou segurar porque afinal
O sino não tocou e nem o cão ladrou